Desenvolvimento e inovação têm como condição primordial a pesquisa científica. Só os conhecimentos adquiridos a partir dela podem levar ao surgimento de produtos, práticas e tecnologias enriquecedoras.
A aprendizagem gerada por esse processo promove progresso econômico e melhoria da qualidade de vida.
A pesquisa científica na medicina
Assim acontece em todas as áreas da atividade humana, principalmente na medicina e saúde, onde também é imperioso evoluir.
Novas abordagens, clínicas e cirúrgicas, novas drogas e equipamentos, emprego inovador de ferramentas digitais devem surgir como fruto de intensa pesquisa científica que extrapole o âmbito meramente acadêmico.
A pesquisa científica inserida nos cursos de medicina
Partindo dessas premissas, fica claro que os cursos de medicina precisam ser revistos. Além dos conhecimentos básicos tradicionais, que preparam, geralmente, para o trabalho assistencial, as faculdades devem estimular o desenvolvimento de projetos.
Atualmente existe a necessidade de formação de líderes, não de repetidores. O estudo científico contribui para o desenvolvimento de novas competências, indispensáveis para o profissional moderno: iniciativa, trabalho em equipe, criatividade, empreendedorismo, habilidades docentes, entre outras.
A especialização proporcionada pelo estudo científico promove a descoberta de recursos facilitadores. Uma vez implantados, eles otimizam o trabalho dos profissionais da saúde e propiciam melhores condições de sobrevivência aos pacientes e de sustentabilidade e abrangência aos sistemas de saúde.
Acesso a programas de incentivo
É preciso que médicos residentes e em especialização sejam iniciados na pesquisa científica.
Os cursos de mestrado e doutorado, podem propiciar essa oportunidade e iniciar o processo. Eles são mantidos pelas universidades, por meio da concessão de bolsas de estudo, oferecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
No entanto, esses cursos de natureza pública, existentes em pequeno número, concentram-se principalmente nas universidades federais e estaduais das regiões sul e sudeste do país. Essas limitações dificultam o acesso a estudos que envolvem um desenvolvimento científico.
Dos quase 10.000 médicos formados anualmente no país, apenas de 10% a 20% têm contato com o sistema de desenvolvimento científico. Mesmo esse sistema sendo complementado por instituições isoladas como sociedades médicas e indústrias farmacêuticas.
Situação da pesquisa científica no Brasil
Há vinte anos, a pesquisa científica brasileira destacava-se no cenário internacional por iniciativas de relevo.
No entanto, a crise econômica, que veio a marcar o século XX, mudou esse cenário. A participação do Brasil em estudos científicos caiu da 17ª para a 24ª posição no ranking mundial.
Atualmente, o Brasil contribui com apenas 2,1% do total de estudos realizados globalmente.
Essa situação foi ainda mais agravada, em 2019 e 2020, com o corte de, aproximadamente, 40% nas verbas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Este corte forçou a interrupção de projetos científicos, a suspensão de bolsas de estudo e a perda de pesquisadores, que se deslocaram para outros países.
A pesquisa científica e as especialidades médicas
A maioria das pesquisas dedica-se, mundialmente, em primeiro lugar, à Oncologia e, em seguida, às afecções do sistema nervoso central (SNC). Chama a atenção a ausência, nessa lista, da citação da anestesiologia em qualquer das posições.
No entanto, reconhece-se hoje a importância do anestesista como presença indispensável em todos os períodos pré e pós-operatórios e de permanência nas unidades de terapia intensiva (UTIs).
Seu papel principal é o monitoramento das funções fisiológicas, a diminuição de complicações e traumas e o controle da dor e da sedação durante todas as cirurgias.
Dada a importância assumida por essa especialidade, o foco da pesquisa científica deve voltar-se para ela, assegurando-lhe inovação em produtos e práticas.
Leia também: Por que a atualização médica em anestesiologia é tão importante e como fazê-la?
Incentivo à participação no desenvolvimento científico
O momento é de transformação.
A crise leva à busca, rápida e eficaz, de novas estratégias.
É preciso incrementar o estudo científico, com o encontro de parceiros investidores, iniciativas de cocriação, divulgação de bases de dados, desburocratização, tele-educação e outras medidas, dependentes de criatividade e empreendedorismo, para que melhorias possam ser adotadas.
Neste sentido, a União Química lança, em 2021, o Prêmio União Química de incentivo à pesquisa em Anestesiologia para residentes e médicos em especialização.
Os candidatos poderão apresentar seus trabalhos sobre o tema medicina perioperatória e concorrer a diversas premiações.
Espera-se que ações semelhantes venham a impulsionar o desenvolvimento de pesquisas no Brasil, de forma a assegurar o reconhecimento do valor de nossos pesquisadores e a volta do país a patamares de desenvolvimento científico reconhecidos internacionalmente.